domingo, 26 de agosto de 2007

Duplo Aplauso I

A SIC repete hoje reportagem (clique aqui ou aqui para ver) de 08-12-2006... Retrato de uma realidade muito para além do Palácio de S. Bento mas que ilustra, com crueza, os contornos de uma nação com 2 milhões de pobres sem voz, miseravelmente condenados a existência infra-humana e diluídos na manipulação da estatística oficial...

O que mais visceralmente repugna são as crianças vasculhando entre o amontoado de comida semi-putrefacta (como nas imagens que nos habituámos a ver na índia, ou América Latina) lutando pelo seu pedaço de sobrevivência em competição violenta com adultos... Num quadro de pura animalidade... A reportagem repete-se hoje passados oito meses, em que a realidade se mantém...

Uma primeira constatação óbvia é perceber o que o cidadão, todos nós, mas pricipalmente quem se encontra em situação de especial desfavorecimento, representa para o estado.... Nada... Outra é a de que se o estado manifesta uma total ausência de valores (
pois os valores são-no/assumem-se na justa medida em que encontram representatividade na práxis, a simples e normal preocupação oficial que não encontra eco no plano da acção é vazia retórica política, temática de difícil entendimento a quem cumpriu provas de inglês técnico por fax) e se, por outro lado, o que se descreve é passível de provocar a presente, e partilhada, reacção de repulsa ao simples cidadão, então facilmente se constata quem vive na dimensão da vulgar animalidade...

É como se a condição de indignidade não estivesse no animal enjaulado em cela nauseabunda mas sim na omnipresença boçal do carcereiro...

Valerá a pena perguntar onde está quem, por exemplo deve proteger crianças?... As que vasculham esperança de sobrevivência no lixo ou abrasam ao sol em colos sem afecto de romenas pedintes em semáforos, ou esquinas sujas da cidade?

Esperemos que quem de direito não se engasgue hoje durante o jantar, não certamente por solidária comoção, claro......

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