terça-feira, 31 de março de 2009

Ama cegou bebé com maus tratos

20 Março 2009 - 00h30

Torres Vedras: Mulher de 40 anos julgada sete anos depois

(ler original aqui)

Alzira Ribeiro com o filho, hoje com oito anos. A criança ficou com problemas psicológicos e físicos para toda a vida
Carlos Barroso

Alzira Ribeiro com o filho, hoje com oito anos.

A criança ficou com problemas psicológicos e físicos para toda a vida

Micael tem hoje oito anos. Está quase cego em consequência dos maus tratos que sofreu da ama quando tinha 18 meses. A agressora, de 40 anos, está a ser julgada no Tribunal de Torres Vedras.

A criança foi de tal forma maltratada, a 9 de Março de 2002, que esteve internada em estado de coma e ficou com incapacidades físicas e psíquicas para sempre. A suspeita das agressões tinha sido contratada quatro meses antes por Alzira Ribeiro, mãe de Micael. "Não a conhecia. Vi um anúncio no jornal e o menino começou a ir para casa dela", contou na primeira audiência do julgamento.

Nos primeiros tempos, tudo correu bem, mas depois começaram a aparecer indícios estranhos. "Vi-o uma vez com um alto na cabeça. Ela disse que o meu filho tinha caído. Noutro dia, ele apareceu com a marca de um estalo na cara e a ama disse que tinha sido na brincadeira com outros miúdos", explica Alzira Ribeiro.

Micael acabaria no hospital, passado pouco tempo. "Ficou em coma superficial e estava desnutrido e subalimentado". "Eu estava a trabalhar e a polícia foi ter comigo a dizer que o meu filho tinha caído e feito um traumatismo craniano grave", lembra a mãe. O menino foi internado no Hospital D. Estefânia, em Lisboa.

Segundo Alzira Ribeiro, o menino "estava cheio de marcas e hematomas em todo o corpo e sofreu hemorragias internas": "A neurologista disse-me que o meu filho tinha sido vítima de maus tratos e para me preparar para o pior, porque ele tinha estado entre a vida e a morte."

A ama telefonou à mãe de Micael a tentar explicar-se: "Disse-me que ele tinha acabado de comer a sopa e que tinha caído. Mas isto aconteceu por volta do meio-dia e meia e só o levou ao hospital de Torres Vedras pelas 14h40." Revoltada, Alzira Ribeiro agrediu a ama e, por isso, já foi condenada pelo tribunal ao pagamento de uma multa de cem euros, que reverteram a favor de uma instituição social. Já o julgamento da arguida só agora começou, passados sete anos. O processo esteve em risco de ser arquivado.

MÃE DESCREVE EM TRIBUNAL CALVÁRIO DO FILHO

No julgamento, Alzira Ribeiro sublinhou as consequências da agressão para a criança. "O Micael não vê da vista direita, da esquerda vê mal, ficou com sequelas motoras", disse a mãe, contando que o menino "foi operado ao pé" e que "a mão do lado direito está afectada": "Ficou com graves problemas a nível cognitivo e vai ser sempre dependente, não se consegue vestir nem despir. Está numa escola com unidade de multideficiências em Paiol, Alenquer". A ama responde por crimes de ofensa à integridade física, maus tratos e exposição ao abandono.

Sem comentários: