segunda-feira, 7 de julho de 2008

A tragédia educativa

A 8 de Agosto de 1975 o V Governo Provisório tomou posse, terminando o seu mandato a 19 de Setembro de 1975. Da sua composição faziam parte, como Ministro da Educação, José Emílio da Silva e, como secretário de estado da orientação pedagógica, Rui Grácio (também membro dos II, III, IV, governos provisórios). O general Vasco Gonçalves assumia o cargo de primeiro ministro. (consultar link oficial aqui).

A 17 de Outubro de 1974 Rui Grácio, secretário de Estado da Orientação Pedagógica, emite o seguinte despacho:

" Tendo sido informado de que nas Bibliotecas dos estabelecimentos de ensino existe quantidade apreciável de livros e revistas de índole fascista, determino que seja elaborada uma circular ordenando a destruição das publicações com esse carácter, depois de arquivados um exemplar, pelo menos, de cada revista e alguns livros a seleccionar, que fiquem como documento ou testemunho de um regime."

Em várias escolas do país procederam-se aos respectivos autos de fé com a consequente queima de livros:

"Aos dezasseis de Julho de mil novecentos e setenta e cinco perante o escrivão do presente auto, Arnaldo Ferreira da Cunha, e Maria do Céu Faria Fernandes da Cunha e Adelaide de Jesus Ferreira Simões, todos professores da Escola Primária de Marrazes, concelho e distrito de Leiria, procedeu-se à destruição, pelo fogo, dos seguintes livros, abaixo indicados e inscritos na lista A:" Escrita à mão, numa folha de papel azul de trinta e cinco linhas, esta frase ocupa as primeiras 11 linhas das quatro páginas de um "Auto de Destruição", pelo fogo, de 92 livros - 51, por inteiro; e 41, das folhas, previamente arrancadas, que continham "uma frase dos ex-Presidentes do Conselho". Estes últimos livros constam de um segundo rol, designado pelo escrivão como "lista B". Ambas as listas foram fornecidas pela Direcção-Geral da Educação Permanente (DGEP) aos encarregados das bibliotecas populares, geralmente professores de escolas primárias às quais aquelas estavam anexas. Seguindo as instruções da circular nº 1/75 de 26 de Março de 1975, daquela Direcção-Geral, o escrivão enumera e indica o título e autor de cada um dos livros e informa que "após verificadas as referidas destruições pelo fogo, foram feitos os devidos abates no livro de inventário da Biblioteca nº 393", pertença daquela Escola Primária. (consultar original aqui)

Do mesmo autor, circular 3/75 de 27 de Junho, é dada a machadada final no ensino técnico profissional da qual ainda hoje o país sofre as inevitáveis consequências com a quebra de modelos de qualificação profissional para a vida activa que nunca foram igualados...

Ao longo dos anos os nossos políticos, e pseudo técnicos/teóricos da educação conduziram o país à beira de um precipício no qual paulatinamente nos afundamos... Somos os reis do papel... E das habilitações duvidosas.

Os recentes resultados dos exames nacionais mostram que a insidiosa cruzada contra qualidade/excelência da educação continua activa. Vive-se pela estatística, pela cultura da aparência, independentemente/contra os interesses pátrios... Impera a medíocre falta de senso decisório...

Pretender que há melhoria efectiva de resultados ao nível dos exames nacionais, quando se alteram algumas das suas variáveis (nomeadamente no factor duração das provas, dando mais 25% de tempo aos estudantes para realizarem a mesma estrutura de exames que até aí eram realizadas, independentemente do grau de facilidade) ou manifesta brutal desonestidade intelectual ou confrangedora incompetência.

Facilmente se verá que o rei vai nu quando chegarem os inevitáveis estudos internacionais comparativos . Até lá o que importa é promover a ignorância, facilitismo, acefalia acrítica... De que outro modo poderia alguma da nossa ilustre classe política perpetuar-se no poder?

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