domingo, 15 de junho de 2008

Caso Mari Luz 1

Hoje a viver com a família em Cartaya, a 20 km de Huelva, Catalina sofreu em silêncio durante anos os abusos do irmão Santiago



















20 Maio 2008 - 02h20

Rui Pando Gomes
Caso Mariluz

Santiago abusou de irmã cinco anos

Durante cinco anos sofreu na pele os abusos sexuais do irmão. Catalina del Valle Garcia terá sido das primeiras vítimas de Santiago, o confesso homicida de Mari Luz. "Entre os cinco e os dez anos fez-me tudo, só não houve penetração", contou ao CM, ontem à tarde, na localidade de Cartaya, a 20 km de Huelva, onde reside actualmente.

'Quando finalmente tive coragem para contar à minha mãe, ela disse-me para não contar nada, que ninguém ia acreditar', continua Catalina, agora com 35 anos. 'Ele é um lobo com pele de cordeiro, fala bem com as pessoas, engana-as mas é o diabo, não tem perdão de Deus', desabafa.

Quando atingiu a idade para se opor aos abusos de Santiago, Catalina passou a sofrer com os maus tratos. 'Chamava-me tudo, atirava-me ao chão', recorda, 'como não me podia tocar sexualmente, vingava-se assim.'

Nos últimos 15 anos, Catalina perdeu o contacto com o irmão, mas recorda-se de outros crimes alegadamente cometidos por Santiago del Valle Garcia. 'Ele violou uma filha, matou outra e violou outras crianças', acusa. 'Nunca o deixei aproximar-se das minhas filhas, se o fizesse, matava-o eu', garante.

Por tudo isto, a autoria da morte de Mari Luz pelo irmão não a surpreende, como também não estranha a ligação da mulher de Santiago ao crime. 'Ela é um veneno, deixou-o violar a filha e matar o filho', diz. 'É má, é muito má, um demónio', diz sobre a cunhada, Isabel, 'há seres humanos maus mas como ela não conheço ninguém.'

Catalina del Valle Garcia reconhece que, no início, não 'desconfiou' do irmão. Não acreditou que ele estivesse por detrás do desaparecimento da menina de cinco anos. 'Mas quando ele desapareceu [ver texto do lado direito, em cima] achei que tinha alguma coisa a ver com o caso'. Quando foi contactada pela polícia, numa altura em que ainda não se sabia o paradeiro de Mari Luz, ficou quase com a certeza que o irmão era culpado.

Se não achou estranhou que o irmão e a cunhada fossem os autores do crime, já a participação da irmã, Rosa, surpreendeu Catalina. 'Eu punha as mãos no fogo por ela', refere, reconhecendo que se teria 'queimado'. Rosa, que terá emprestado o carro para que o corpo da menina fosse escondido, segundo Catalina, 'enganou toda a gente, tanto a mim como às autoridades'.

PRISÃO

Santiago del Valle saiu do Tribunal de Huelva com ordem de prisão preventiva, sem hipótese de pagamento de fiança. Vai ser acusado dos crimes de assassinato e agressão sexual sobre Mari Luz. A irmã Rosa é acusada também de assassinato.

TIO FEZ INVESTIGAÇÃO

O tio de Mari Luz, Diego Cortés, foi o primeiro a suspeitar de Santiago. No dia do desaparecimento arrombou a porta do suspeito, mas já não encontrou a sobrinha. Confrontou o criminoso e a irmã e quase o agrediu para conseguir a confissão. 'Não tinha cem por cento de certezas, por isso não o matei logo', confessou ao CM Diego. Não descansou e começou ele próprio uma investigação e recolha de provas. Conseguiu documentos que revelam que Santiago já tinha procurado crianças na internet.

'GOSTAVA DE LHE PERGUNTAR PORQUÊ' (Juan José Cortés, pai de Mari Luz)

Correio da Manhã – Considera que o caso terminou?

Juan José Cortés – Não, o caso só vai terminar quando terminar o julgamento e se fizer justiça. Agora é preciso o juiz fazer o seu trabalho.

– O que gostaria que acontecesse a Santiago?

– É preciso que a Justiça seja justa, eu sei que nada me vai trazer a minha filha de volta, mas pelo menos que lhe dêem a pena máxima ou mudem a lei e que ele seja condenado a prisão perpétua.

– Queria perguntar-lhe alguma coisa?

– Só gostava de lhe perguntar porquê, por que matou a minha filha, por que é que não a deixou viva.

ASSASSINO ILUDIU JUSTIÇA EM DOIS CRIMES SEXUAIS

Santiago del Valle, o assassino confesso de Mari Luz Cortés, conseguiu iludir a Justiça espanhola e fugir à prisão por dois crimes de abusos sexuais, apesar de ter sido condenado. As duas sentenças, proferidas pelo Tribunal de Sevilha, somam quatro anos e nove meses: dois e nove meses referem-se a abusos à própria filha de cinco anos e os outros dois por ter abusado de uma criança de nove meses.

A primeira condenação foi ordenada em 2002 e a segunda em 2006. Nenhuma das duas foi executada pelo juiz e Santiago nunca foi parar à cadeia. Ontem, o juiz Rafael Tirado Márquez, que manteve em liberdade o pedófilo, assumiu a falha judicial, mas atirou as culpas para cima de uma funcionária, que 'esteve de baixa cinco meses sem substituição'. O Conselho Superior de Justiça espanhol já deu ordem para que fosse investigada a actuação do juiz e do Tribunal Penal N.º 1 de Sevilha.

CORPO ESCONDIDO POUCAS HORAS DEPOIS

fonte da investigação explicou ao CM que um cartão encontrado no carro da irmã de Santiago levantou suspeitas sobre a participação do homem no desaparecimento da menina. Essa suspeita é confirmada por Diego, tio de Mari Luz, que, duas horas depois do desaparecimento, foi a casa do homem. Na altura, só encontrou a irmã, e o carro 'também não estava na rua', contou ao CM.

Horas mais tarde, voltou à casa. O carro estava à porta 'mas lavado'. Também um par de botas 'tinha sido lavado, quando todos os outros sapatos estavam sujos'. Diego disse então a Rosa para lhe mostrar a mala do carro e lá encontrou o cartão. 'Estava todo molhado', recorda Diego. Santiago teria ido esconder o corpo de Mari Luz e, em seguida, lavou o carro e a roupa que tinha utilizado. Para transportar o corpo utilizou um carrinho de compras que costumava utilizar para transportar os lenços e papel higiénico que vendia. Nessa noite o carrinho estava vazio. No dia seguinte, logo às 07h00 da manhã, Santiago e a mulher, Isabel, saíram de Huelva, sem deixar rasto. Alguns dias depois, também a irmã do criminoso, Rosa, deixava a casa à entrada da Praça das Rosas.

Diego contou tudo à polícia que, dois dias depois, a 15 de Janeiro, localizou o casal em Granada. Os dois foram interrogados e, depois, deixados em liberdade, mas ficaram sob suspeita.

MUDANÇA DE PRISÃO POR SEGURANÇA

Santiago vai ser transferido do Centro Penitenciário de Huelva (onde estão presos membros da ETA) para uma mais distante por questões de segurança. As autoridades temem represálias na cadeia.

PRIMEIRA NOITE ISOLADOS DE OUTROS PRESOS

Os dois autores da morte de Mari Luz passaram a primeira noite na prisão numa zona isolada dos restantes detidos. Santiago e Rosa tiveram vigilância especial por terem sido ameaçados.

FALHA ABRE DEBATE SOBRE LEI DE ABUSOS

A morte de Mari Luz está a suscitar um debate sobre a necessidade da revisão da lei de delitos sexuais, com juízes e magistrados a defenderem um registo de condenados.

ISABEL INTERNADA EM HOSPITAL

A mulher de Santiago foi ontem internada num hospital psiquiátrico de Sevilha para cumprir uma anterior condenação por cumplicidade no abuso da filha

CARTAS DE MULHERES

Várias mulheres responderam a anúncios colocados em revistas por Santiago. Uma delas foi enviada dias depois do desaparecimento

PRIMEIRA VEZ NO BANCO

Ontem, às 20h30, Juan José Cortés, pai da menina, sentou--se pela primeira vez no banco de suplentes da sua equipa de futebol, o El Pinzon, desde o início do caso

30

Segundo fonte do Governo Regional da Andaluzia, Santiago del Valle Garcia pode ser condenado a uma pena de até 30 anos de prisão pelo crime de assassinato

(clicar aqui para ler original)

João Mira Godinho / Rui Pando Gomes

Sem comentários: